11/12/2009
- 14h36
"Não existe aquecimento global", diz representante da
OMM na América do Sul
Por Carlos Madeiro
Especial para o UOL Ciência
e Saúde
Com 40 anos de experiência em estudos do clima
no planeta, o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos
Molion apresenta ao mundo o discurso inverso ao apresentado pela maioria
dos climatologistas. Representante dos países da Amé rica
do Sul na Comissão de Climatologia da Organização
Meteorológica Mundial (OMM), Molion assegura que o homem e suas
emissões na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento
global. Ele também diz que há manipulação
dos dados da temperatura terrestre e garante: a Terra vai esfriar nos
próximos 22 anos.
Em entrevista ao UOL, Molion foi irônico ao ser
questionado sobre uma possível ida a Copenhague: "perder meu
tempo?" Segundo ele, somente o Brasil, dentre os países emergentes,
dá importância à conferência da ONU. O metereologista
defende que a discussão deixou de ser científica para se
tornar política e econômica, e que as potências mundiais
estariam preocupadas em frear a evolução dos países
em desenvolvimento.
UOL: Enquanto todos os países
discutem formas de reduzir a emissão de gases na atmosfera para
conter o aquecimento global, o senhor afirma que a Terra está esfriando.
Por quê?
Luiz Carlos Molion: Essas variações não
são cíclicas, mas são repetitivas. O certo é
que quem comanda o clima global não é o CO2. Pelo contrário!
Ele é uma resposta. Isso já foi mostrado por vários
experimentos. Se não é o CO2, o que controla o clima? O
sol, que é a fonte principal de energia para todo sistema climático.
E há um período de 90 anos, aproximadamente, em que ele
passa de atividade máxima para mínima. Registros de atividade
solar, da época de Galileu, mostram que, por exemplo, o sol esteve
em baixa atividade em 1820, no final do século 19 e no inicio do
século 20. Agora o sol deve repetir esse pico, passando os próximos
22, 24 anos, com baixa atividade.
UOL: Isso vai diminuir a temperatura
da Terra?
Molion: Vai diminuir a radiação que chega
e isso vai contribuir para diminuir a temperatura global. Mas tem outro
fator interno q ue vai reduzir o clima global: os oceanos e a grande quantidade
de calor armazenada neles. Hoje em dia, existem boias que têm a
capacidade de mergulhar até 2.000 metros de profundidade e se deslocar
com as correntes. Elas vão registrando temperatura, salinidade,
e fazem uma amostragem. Essas boias indicam que os oceanos estão
perdendo calor. Como eles constituem 71% da superfície terrestre,
claro que têm um papel importante no clima da Terra. O [oceano]
Pacífico representa 35% da superfície, e ele tem dado mostras
de que está se resfriando desde 1999, 2000. Da última vez
que ele ficou frio na região tropical foi entre 1947 e 1976. Portanto,
permaneceu 30 anos resfriado.
UOL: Esse resfriamento vai se repetir,
então, nos próximos anos?
Molion: Naquela época houve redução
de temperatura, e houve a coincidência da segunda Guerra Mundial,
quando a globalização começou pra valer. Para produ
zir, os países tinham que consumir mais petróleo e carvão,
e as emissões de carbono se intensificaram. Mas durante 30 anos
houve resfriamento e se falava até em uma nova era glacial. Depois,
por coincidência, na metade de 1976 o oceano ficou quente e houve
um aquecimento da temperatura global. Surgiram então umas pessoas
- algumas das que falavam da nova era glacial - que disseram que estava
ocorrendo um aquecimento e que o homem era responsável por isso.
UOL: O senhor diz que o Pacífico
esfriou, mas as temperaturas médias Terra estão maiores,
segundo a maioria dos estudos apresentados.
Molion: Depende de como se mede.
UOL: Mede-se errado hoje?
Molion: Não é um problema de medir, em
si, mas as estações estão sendo utilizadas, infelizmente,
com um viés de que há aquecimento.
UOL: O senhor está afirmando
que há direcionamento?
Molion: Há. Há umas seis semanas, hackers
entraram nos computadores da East Anglia, na Inglaterra, que é
um braço direto do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática], e eles baixaram mais de mil e-mails. Alguns deles são
comprometedores. Manipularam uma série para que, ao invés
de mostrar um resfriamento, mostrassem um aquecimento.
UOL: Então o senhor garante existir
uma manipulação?
Molion: Se você não quiser usar um termo
tão forte, digamos que eles são ajustados para mostrar um
aquecimento, que não é verdadeiro.
UOL: Se há tantos dados técnicos,
por que essa discussão de aquecimento global? Os governos têm
conhecimento disso ou eles também são enganados?
Molion: Essa é a grande dúvida. Na verdade,
o aquecimento não é mais um assunto científico, embora
alguns cientistas se engajem nisso. Ele passou a ser uma plataforma política
e econômica. Da maneira como vejo, reduzir as emissões é
reduzir a geração da energia elétrica, que é
a base do desenvolvimento em qualquer lugar do mundo. Como existem países
que têm a sua matriz calcada nos combustíveis fósseis,
não há como diminuir a geração de energia
elétrica sem reduzir a produção.
UOL: Isso traria um reflexo maior aos
países ricos ou pobres?
Molion: O efeito maior seria aos países em desenvolvimento,
certamente. Os desenvolvidos já têm uma estabilidade e podem
reduzir marginalmente, por exemplo, melhorando o consumo dos aparelhos
elétricos. Mas o aumento populacional vai exigir maior consumo.
Se minha visão estiver correta, os paises fora dos trópicos
vão sofrer um resfriamento global. E vão ter que consumir
mais energia para não morrer de frio. E isso atinge todos os países
desenvolvidos.
UOL: O senhor, então, contesta
qualquer influência do homem na mudança de temperatura da
Terr a?
Molion: Os fluxos naturais dos oceanos, polos, vulcões
e vegetação somam 200 bilhões de emissões
por ano. A incerteza que temos desse número é de 40 bilhões
para cima ou para baixo. O homem coloca apenas 6 bilhões, portanto
a emissões humanas representam 3%. Se nessa conferência conseguirem
reduzir a emissão pela metade, o que são 3 bilhões
de toneladas em meio a 200 bilhões?Não vai mudar absolutamente
nada no clima.
UOL: O senhor defende, então,
que o Brasil não deveria assinar esse novo protocolo?
Molion: Dos quatro do bloco do BRIC (Brasil, Rússia,
Índia e China), o Brasil é o único que aceita as
coisas, que "abana o rabo" para essas questões. A Rússia
não está nem aí, a China vai assinar por aparência.
No Brasil, a maior parte das nossas emissões vem da queimadas,
que significa a destruição das florestas.
Tomara que nessa conferência saia alguma coisa boa para reduzir
a destruição das florestas.
UOL: Mas a redução de
emissões não traria nenhum benefício à humanidade?
Molion: A mídia coloca o CO2 como vilão,
como um poluente, e não é. Ele é o gás da
vida. Está provado que quando você dobra o CO2, a produção
das plantas aumenta. Eu concordo que combustíveis fósseis
sejam poluentes. Mas não por conta do CO2, e sim por causa dos
outros constituintes, como o enxofre, por exemplo.
Quando liberado, ele se combina com a umidade do ar e se transforma em
gotícula de ácido sulfúrico e as pessoas inalam isso.
Aí vêm os problemas pulmonares.
UOL: Se não há mecanismos
capazes de medir a temperatura média da Terra, como o senhor prova
que a temperatura está baixando?
Molion: A gente vê o resfriamento com invernos
mais frios, geadas mais fortes, tardias e antecipadas. Veja o que aconteceu
este ano no Canadá. Eles plantaram em abril, como sempre, e em
10 de junho houve uma geada severa que matou tudo e eles tiveram que replantar.
Mas era fim da primavera, inicio de verão, e deveria ser quente.
O Brasil sofre a mesma coisa. Em 1947, última vez que passamos
por uma situação dessas, a frequência de geadas foi
tão grande que acabou com a plantação de café
no Paraná.
UOL: E quanto ao derretimento das geleiras?
Molion: Essa afirmação é fantasiosa.
Na realidade, o que derrete é o gelo flutuante. E ele não
aumenta o nível do mar.
UOL: Mas o mar não está
avançando?
Molion: Não está. Há uma foto feita
por desbravadores da Austrália em 1841 de uma marca onde estava
o nível do mar, e hoje ela está no mesmo nível. Existem
os lugares onde o mar avança e outros onde ele retrocede, mas não
tem relação com a temperatura global.
UOL: O senhor viu algum avanço
com o Protoclo de Kyoto?
Molion: Nenhum. Entre 2002 e 2008, se propunham a reduzir
em 5,2% as emissões e até agora as emissões continuam
aumentando. Na Europa não houve redução nenhuma.
Virou discursos de políticos que querem ser amigos do ambiente
e ao mesmo tempo fazer crer que países subdesenvolvidos ou emergentes
vão contribuir com um aquecimento. Considero como uma atitude neocolonialista.
UOL: O que a convenção
de Copenhague poderia discutir de útil para o meio ambiente?
Molion: Certamente não seriam as emissões.
Carbono não controla o clima. O que poderia ser discutido seria:
melhorar as condições de prever os eventos, como grandes
tempestades, furacões, secas; e buscar produzir adaptações
do ser humano a isso, como produções de plantas que se adaptassem
ao sertão nordestino, como menor necessidade de água. E
com isso, reduzir as desigualdades sociais do mundo.
UOL: O senhor se sente uma voz solitária
nesse discurso contra o aquecimento global?
Molion: Aqui no Brasil há algumas, e é
crescente o número de pessoas contra o aquecimento global. O que
posso dizer é que sou pioneiro. Um problema é que quem não
é a favor do aquecimento global sofre retaliações,
têm seus projetos reprovados e seus artigos não são
aceitos para publicação. E eles [governos] estão
prejudicando a Nação, a sociedade, e não a minha
pessoa.
Luiz Carlos Molion - Meteorologista da Universidade Federal
de Alagoas
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